Esses obstáculos impactam diretamente a saúde pública e a qualidade de vida nas capitais, que enfrentam dificuldades em áreas fundamentais. O professor Fernando Luiz Araújo Sobrinho, do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (UnB), é um dos especialistas que há anos pesquisa o desenvolvimento urbano na Amazônia. Segundo ele, há cinco problemas estruturais que precisam ser enfrentados de forma integrada: regularização fundiária, habitação social, saneamento, melhoria dos serviços públicos e combate à violência.
Continuidade das Políticas Públicas
De acordo com Fernando Sobrinho, muitos dos desafios enfrentados por essas cidades exigem soluções de longo prazo. “Esses problemas não serão resolvidos em um ou dois mandatos. A continuidade de políticas públicas eficazes e a articulação com os governos estadual e federal são fundamentais, especialmente em áreas como o saneamento, onde os índices são muito mais críticos do que em outras regiões do Brasil”, afirma.
O pesquisador também destaca que o saneamento vai além de redes de água e esgoto, incluindo a coleta de lixo e a eliminação dos lixões. “Em cidades onde 80% da área urbana não tem saneamento básico, não há solução rápida possível. É um desafio que exige planejamento de longo prazo”, explica.
A Violência e o Aliciamento de Jovens
Outro problema grave nas capitais da Região Norte é a violência, especialmente agravada pela proximidade com fronteiras internacionais, que tornam a região uma rota para o tráfico de drogas e armas. “A violência das facções criminosas é uma realidade nas cidades amazônicas, com disputas territoriais e aliciamento de jovens para o crime”, alerta Sobrinho.
As capitais, como Belém e Manaus, enfrentam índices alarmantes de homicídios juvenis, principalmente entre jovens negros, pardos e indígenas. Em Belém, por exemplo, a taxa de homicídios entre esses grupos é quase dez vezes maior do que entre brancos.
Regularização Fundiária e Habitação
A falta de regularização fundiária também é um problema estrutural que afeta o planejamento urbano nas quatro capitais. “Cidades da Amazônia crescem sem planejamento, e a informalidade urbana é quase institucionalizada”, diz o professor. Esse crescimento desordenado resulta na expansão para áreas irregulares, tornando difícil a implementação de políticas públicas.
Mesmo Palmas, capital planejada e a mais nova do Brasil, enfrenta problemas de regularização fundiária desde sua fundação. “A ausência de regularização é um obstáculo para o acesso a serviços essenciais, como saúde e educação”, reforça Sobrinho.
Impactos das Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas são outra preocupação que afeta diretamente a Região Norte. As capitais, especialmente Manaus, enfrentam secas extremas que afetam o abastecimento de água, fundamental para a sobrevivência e para a conectividade entre as populações ribeirinhas e urbanas. “Os rios da Amazônia têm papel crucial na comunicação e no transporte. As alterações climáticas estão impactando a vida nessas cidades, exigindo que seus prefeitos pensem em soluções resilientes”, observa Sobrinho.
Desigualdades Sociais e Recortes Raciais
Jorge Abrahão, coordenador do Instituto Cidades Sustentáveis, alerta para as desigualdades sociais que permeiam as capitais da Região Norte. “Os índices de homicídios de jovens negros são alarmantes em Belém e Manaus, e os dados de saúde, educação e geração de emprego mostram que as populações mais vulneráveis são as mais atingidas”, pontua.
O levantamento do instituto também mostra que a expectativa de vida entre pretos, pardos e indígenas é significativamente menor que a de brancos e amarelos. Em Belém, a diferença chega a 8,7 anos, indicando um cenário de profunda desigualdade.
Os novos prefeitos das capitais do Norte terão pela frente um cenário de grandes desafios, que vão desde a regularização fundiária até a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. A necessidade de articulação entre as esferas de governo e a continuidade de políticas públicas eficazes será essencial para que essas cidades possam avançar em questões estruturais que afetam diretamente a qualidade de vida de suas populações.