Nas últimas semanas, três grandes operações da Polícia Federal (PF) movimentaram os bastidores dos poderes Executivo e Judiciário em Tocantins. Investigando desde desvio de verbas públicas até venda de sentenças judiciais, essas ações colocaram políticos, juízes, empresários, assessores, e até mesmo o governador do estado, Wanderlei Barbosa (Republicanos), no centro de inquéritos que revelam um esquema complexo de corrupção e fraudes.
Operação Fames-19
A Operação Fames-19 investiga o suposto desvio de recursos públicos destinados à compra e distribuição de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19, nos anos de 2020 e 2021. Entre os alvos principais está o governador Wanderlei Barbosa, sua esposa e dois de seus filhos. Durante as buscas, a PF apreendeu R$ 67,7 mil em espécie na residência do governador, além de dinheiro encontrado em seu gabinete.
O foco da investigação é um contrato do governo que envolveu a compra de cerca de 1,6 milhão de cestas básicas, realizadas sem licitação sob o pretexto de emergência. A suspeita é que grande parte das cestas básicas não foi entregue, apesar dos pagamentos realizados. Na época dos contratos, Wanderlei Barbosa era vice-governador, e Mauro Carlesse (Agir) ocupava o cargo de governador. Carlesse, que foi afastado do cargo em 2021 por outra investigação, não é investigado neste inquérito.
O governo do Tocantins afirmou colaborar com as investigações e declarou que é de interesse do estado esclarecer os fatos. Wanderlei Barbosa disse que recebeu a operação com surpresa e tranquilidade, alegando que não era responsável por despesas relacionadas ao programa de cestas básicas.
Operação Máximus
A Operação Máximus se concentra no suposto esquema de venda de sentenças dentro do Poder Judiciário tocantinense. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o afastamento do desembargador Helvécio de Brito Maia Neto e do juiz José Maria Lima, ouvidor do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). A investigação envolve crimes como corrupção ativa, exploração de prestígio, lavagem de dinheiro, e organização criminosa.
Entre os presos está Thales André Pereira Maia, filho do desembargador Helvécio, que atuava como assessor do senador Eduardo Gomes (PL). Além disso, Thiago Sulino de Castro, advogado com ligações com o gabinete de uma desembargadora, também foi detido. A PF cumpriu mandados de busca e apreensão em várias localidades, incluindo o Fórum de Palmas e a sede do Tribunal de Justiça. Na residência do desembargador João Rigo Guimarães, foram encontradas armas de fogo, evidenciando a gravidade das acusações.
Operação Timóteo 6:9
A Operação Timóteo 6:9 investiga fraudes em contratos da extinta Secretaria de Infraestrutura, Cidades e Habitação do Estado do Tocantins e da Agência Tocantinense de Transportes e Obras (Ageto). O ex-governador Mauro Carlesse é alvo da operação, pois as irregularidades teriam ocorrido durante seu mandato. A PF investiga contratos que somam mais de R$ 10 milhões, relacionados à locação de máquinas pesadas e caminhões, e à manutenção de veículos, que supostamente não foram realizados integralmente.
Durante a operação, um Camaro foi apreendido no prédio de Carlesse, mas a PF não divulgou se o veículo pertence ao ex-governador. Em sua defesa, Carlesse alegou que a licitação em questão foi iniciada durante o governo de Marcelo Miranda, que, por sua vez, negou qualquer relação com a investigação e repudiou as acusações.
Essas operações expuseram um complexo esquema de corrupção e fraude que atinge o coração dos poderes em Tocantins, trazendo à tona a necessidade de maior transparência e responsabilidade nas ações governamentais. As investigações continuam, e o desfecho desses inquéritos será crucial para o futuro político e judicial do estado.