Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou a operação Fames-19, que investiga um suposto esquema de desvio de dinheiro destinado à compra de cestas básicas durante a pandemia de Covid-19 em Tocantins. A operação, realizada na quarta-feira (21), apontou que Layane de Sousa Silva, assessora ligada ao governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), foi responsável por sacar, sozinha, R$ 916 mil. O dinheiro teria sido repassado a ela por empresários que venceram licitações para fornecer alimentos a pessoas carentes no estado. Até o momento, a quantia não foi localizada pela polícia.
Layane, que ocupava um cargo em comissão na Secretaria Executiva da Governadoria desde julho de 2022, foi exonerada nesta quinta-feira (22). Apesar de seu salário de R$ 5.712,72, a investigação revelou que ela realizou saques totalizando R$ 916.333 em espécie. O g1 tentou contato com Layane e sua defesa, mas não obteve resposta. O governo do estado também não se manifestou até a última atualização da reportagem.
Detalhes da Operação
A Polícia Federal cumpriu 42 mandados de busca e apreensão em locais ligados ao governador Wanderlei Barbosa, seus filhos, e a primeira-dama do estado. A investigação aponta que houve direcionamento de licitações e que nem todas as cestas básicas foram entregues, apesar de terem sido pagas. A operação foi autorizada pelo ministro Mauro Campbell, do STJ, que detalhou a existência de uma suposta organização criminosa dividida em quatro núcleos: político, empresarial, servidores públicos, e lavagem de dinheiro.
O dinheiro que Layane de Sousa Silva sacou foi repassado por três pessoas, incluindo dois empresários investigados no esquema de fraude. Um deles transferiu R$ 493 mil para a assessora em um intervalo de seis meses. A decisão judicial levanta suspeitas de que esses valores podem ter sido repassados a terceiros, ou até mesmo ao próprio governador Wanderlei Barbosa.
Esclarecimentos dos Investigados
Em sua defesa, Wanderlei Barbosa afirmou que, à época do suposto esquema, entre 2020 e 2021, ele era vice-governador e não tinha relação com o programa de distribuição de cestas básicas. Disse ainda que seu nome só aparece na investigação por sua participação em um consórcio informal de R$ 5 mil com outras 11 pessoas, uma delas investigada.
A primeira-dama Karynne Sotero, também alvo da operação, declarou que recebeu a notícia com “espanto e perplexidade”, pois não faz parte do processo investigatório e não era sequer primeira-dama à época dos fatos. Léo Barbosa, deputado estadual e filho do governador, afirmou que já prestou todos os esclarecimentos à polícia e que não imaginava que sua participação no consórcio pudesse causar tamanho transtorno.
Empresários e Autoridades Envolvidas
Entre os investigados está Joseph Madeira, presidente do Sindicato das Empresas de Segurança Privada de Tocantins (SindespTO) e da Associação Comercial de Palmas (Acipa). Ele foi preso durante a operação por suposta obstrução de justiça, após os policiais não encontrarem seu celular na residência. O advogado de Joseph Madeira, Antonio Ianowich, criticou a ação como um “abuso de poder”.
Conclusão
A operação Fames-19, cujo nome faz referência à fome causada pela pandemia de Covid-19, segue investigando o suposto desvio de recursos públicos no Tocantins. As autoridades ainda buscam esclarecer o destino dos valores sacados e a possível participação de outras figuras políticas no esquema. A população e as instituições aguardam um desfecho justo e transparente para o caso.